O Caminho do Compromisso em um Mundo de Incertezas
- Ricardo W.
- 31 de dez. de 2018
- 4 min de leitura
Hoje em dia, após chegarmos em nossas casas cansados de nossos trabalhos, vamos até o sofá e ligamos ou a televisão ou nos conectamos nas mídias sociais, apenas para vermos uma representação mais ou menos em miniatura e simplificada do modo de vida que temos tomado. Assistimos a programas onde as pessoas tem que caçar e escolher alguma coisa para torná-las felizes, semelhante ao que ocorre em vídeos no YouTube. Não irei entrar no mérito destes programas que nos são apresentados, mas eles dizem bastante sobre a cultura que se formou nas últimas décadas em nossas cidades. A Religião da Escolha Em quase todos os aspectos da existência moderna, temos um buffet, um menu verdadeiramente ilimitado, de opções para escolher o que vamos vestir; o que iremos comer; onde viveremos; onde, o que e a quem adoraremos. Temos mais opções para escolher do que qualquer outro grupo de pessoas em qualquer outro momento da história da humanidade. E esse fato define nosso modo de vida. Consciente ou inconscientemente, somos pouco mais do que consumidores em um vasto shopping de escolhas. Comprar é um dos sacramentos da religião da modernidade. À primeira vista, essa escolha quase ilimitada deve garantir a nossa felicidade. Deve ser uma enorme bênção. Afinal, se, em qualquer ponto, somos infelizes, precisamos simplesmente reexaminar o menu de escolhas e escolher a opção que atenda às nossas necessidades. Essa é a promessa do consumismo. Esse é o dogma fundamental da religião da autonomia e da autorrealização. A melhor opção, a opção certa para você, está ao virar da esquina. É apenas mais uma escolha. O Paradoxo da Escolha Pois a realidade é a antípoda dessa crença. O paradoxo de escolha é o que sempre nos deixa infelizes. Quanto mais escolhas temos, mais insatisfeitos nos tornamos. E, se somos infelizes, deve ser nossa própria culpa. Devemos simplesmente ter escolhido a opção errada e precisamos apenas retornar ao mercado e encontrar o que é certo para nós. Então, nós vendemos a casa que tem uma cozinha que é muito pequena ou um quintal que é muito apertado. Nós trocamos de emprego se não gostamos do nosso chefe ou achamos o trabalho monótono. E ainda mais, divorciamos da esposa que já não nos satisfaz. Sempre há uma opção melhor, nos dizem. Nós apenas temos que encontrá-la. O consumismo torna-se então uma coceira que deve ser arranhada. É um frisson que nunca se acalma. Ele rouba qualquer felicidade real para que possa ser vendida de volta à nós - com juros, é claro. E quando perdemos algo por incompetência, sentimos que aquilo era nosso direito, que deveria ser garantido pelos outros a nós. Compromisso e Amor Contudo, há um problema mais profundo com a Cultura da Escolha: cria um clima que torna quase impossível o crescimento do amor autêntico, porque nunca nos comprometemos com nada, nunca aprendemos a amar nada. O amor sempre envolve sacrifício. Isso sempre dói e nos custará de uma forma ou de outra. Por amor não quero dizer o amor conjugal necessariamente, embora ele esteja, naturalmente, envolvido. Eu quero dizer amor para uma vocação, para uma família, para um lugar, para uma comunidade, ou mesmo para um lar.
“O amor não é um simples sentimento que provém de reações químicas que ocorrem no corpo humano. O amor é profundo e espiritual. O amor é o elemento mais importante na construção de tudo que é belo e duradouro. É o amor de um casal que dá origem à vida e que solidifica a família. É o amor dos homens por sua Nação que cria as civilizações. O amor pelos Deuses ou por Deus que inspira os homens a realizar os mais virtuosos feitos. O amor necessita ser cultivado todos os dias, com respeito, com compromisso e com sacrifício. Só assim é possível alcançar o amor verdadeiro, aquele que parte da Alma.” – Bertram Schweickert
Como consumidores catequizados pela nova cultura da oferta, acreditando que as infelicidades possam ser resolvidas através da compra, estamos sempre fugindo do desconforto em busca da melhor escolha fantasiosa. Estamos constantemente a fugir da dor que vem com o investimento em algo realmente longevo. E assim nunca aprendemos a amar e nunca experimentamos a alegria e o fruto duradouro que o compromisso traz. Em vez disso, nós permanecemos desarraigados, inquietos, deslocados e insatisfeitos. Um chamado para a estabilidade O que fazer? A única solução para a armadilha consumista é escolher conscientemente a limitação. A única saída é rejeitar o menu de escolhas e escolher a estabilidade. É a única maneira de aprender a virtude. É a única maneira de aprender a amar. Isso não é negar as circunstâncias que às vezes nos chamam a mudar nossa situação de uma forma ou de outra. Na verdade, isso se faz necessário em alguns momentos, sendo mais frequente do que desejamos. Mas pode-se acreditar firmemente que na maioria das situações o contrário predomina. É mais natural e um dever primordial que nos comprometemos e investimos nas pessoas e em um lugar onde possamos estabelecer nossas raízes na história. O problema é estarmos muito inquietos e agitados para ouvir este chamado ao dever. Então, leitores e legionários, desafiamos vocês a se comprometerem. Desafiamos vocês a encontrarem um cônjuge e amá-lo até o dia de sua morte. Encontrar um lugar para chamar de lar e, se possível, amá-lo e criar seus filhos nele e preenchê-lo com o calor das lembranças. Escolher uma vocação e crescer nela até ser o artesão que glorifica seu povo com o trabalho. Para investir no lugar ao qual o destino lhe chama, mesmo ao custo de seu esforço. Para escolher as exigências do amor e experimentar a felicidade que ele carrega consigo.
