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Eles


No cerne da psicologia progressista estão os valores iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. Podem haver valores mais vazios de alma, significado, e que exalem mais narrativa política e ideologia, sem, no final, nada significarem? Não é por mero acaso ou força do destino que a era na qual vivemos carece tanto de instituições com estabilidade, afinal, todos os pilares da civilização ocidental hoje são tão elásticos a ponto de significar qualquer coisa. Hoje mesmo, por exemplo, defender a igualdade e a liberdade se traduz em abrir as fronteiras de todo ocidente aos inimigos juramentados dos nossos valores.

Mas o problema vai mais fundo: os maestros desta Elegia (poesia melancólica funerária) da nossa civilização podem ver tais ideias como infundadas, e utilizá-las para seus fins medonhos, mas a grande massa seguidora de tais ideias realmente crê estar seguindo a verdade, numa abominável quimera que junta um conceito falho e amadorístico de Platonismo, com o pior do Idealismo Alemão.

O que ocorre na mente do progressista é uma ideia primitiva da relação dialética das forças sociais, e, ao mesmo tempo, uma busca analítica pela “verdade”, cuja essência é inexistente, segundo eles, mas que só pode ser mais ou menos percebida após se retirar qualquer aspecto de influência cultural, de costumes, etc... de um povo. Tudo, claro, enquanto dizem defender as culturas e preservar os povos. Ao invés, no entanto, de seguir Hegel no objetivo de encontrar uma síntese, a função dessa dialética demoníaca é se traduzir, no mundo real, em engenharia social que tem como finalidade destruir tudo e formar uma Gesellschaft¹ global. Uma Weltgesellschaft².

Uma vez desprovida do sentido de ser, uma Sociedade vaga à deriva, num leito que leva a sua morte. Todas relações são cada vez mais vistas metonimicamente, apenas em seu aspecto material, e a busca por dinheiro, seja na forma da exploração pelo setor privado ou pelo Estado, surge.

Quando finalmente é demonstrado que não há um sentido inerente em Ser, e, portanto, essa ideia antiquada de querer preservar aquilo que nos torna nós mesmos é apenas algo do passado, não mais necessário no Admirável Mundo Novo, livre de preconceitos e fobias, afinal, a amigável mão da educação pública irá substituir os pais, mães, famílias, e tudo que possa compor qualquer resquício de formação do Eu e da Gemeinschaft³.

Aqui percebemos novamente o padrão outrora apontado por este que vos escreve, aonde, muito embora o cosmopolita necessita da pequena cidade, a pequena cidade não precisa do cosmopolita, mas, antes de ser uma relação amigável de trocas, a Metrópole corrói e destrói a pequena cidade, e, com isso, destrói os pilares de sua edificação.

O mais perspicaz apontaria apenas um problema de logística, mas muitos irão mais fundo, afinal, o problema de logística surge como sintoma, não causa primária.

Ao ver tudo isso, devemos concordar parcialmente com Comte, que disse “demografia é destino!”, ao qual podemos responder que a “demografia ideológica” talvez seja um indicador prévio da demografia de povos. Ao ver tudo isso, também, podemos tomar a manifestação material como fonte para todos juízos, e nos tornarmos certamente niilistas, ou proto-niilistas, buscarmos a destruição disso, para repor à nossa imagem, perdendo, assim, todo o senso do Sagrado, novamente. Como que um povo anseia reconstruir a Teocracia sem acreditar nos Deuses? Como um jovem planeja lutar pelo seu povo sem o desejo de constituir uma família? Ambas analogias servem muito bem ao nosso exemplo. De que serve uma revolução de fato? Da destruição de algo, não surge nada melhor ou novo, surge apenas uma quimera e uma sombra do que acabara de ser destruído, e como exemplo disso basta olhar o Ocidente pós-revolucionário.

O fato de que aqueles que se propõem a lutar contra isso sofrem dos mesmos vícios que os seus inimigos apenas demonstra o como eles são frutos de nosso tempo, e apenas isso. É necessário apenas levar nossa mente aos tempos de outrora, buscar a essência daquele povo, e pensar o quão distante estamos deles.

Um erro, também, é voltar ao passado. Não vivemos mais naquele mundo, o problema aqui é que as pessoas tomaram o mundo pela fonte da Verdade, a Verdade foi esquecida, e ela não se importa se hoje a procuramos por e-books e não por papiros, e é por isso que não devemos lutar pela destruição da tecnologia ou volta à barbárie, mas pela superação de tudo que há de imoral e errado na nossa era.

Por isso que as vezes é mais efetivo na luta contra a mentira atirar neles a Luz da Verdade do que empunhar armas. Um povo que acordou para seu destino histórico é mais forte que armas, afinal, o que destruiu o Japão foram bombas nucleares ou as ideologias grotescas inseridas naquela cultura? O que destruiu a Alemanha foram duas guerras mundiais ou o extremismo igualitário ao qual o povo está sendo submetido agora?

Sem sangue e sem espírito, não há povo. Sem a Espada e sem o Conhecimento, não há luta. E, no final, sem esperança, nada disso pode ser posto em prática. A revolução não é o caminho, a não ser que estejamos falando no sentido original, latino, da palavra: uma volta ao status quo ante, dentro do mundo atual.

No final, a Verdade triunfará, e essa verdade não é os valores iluministas propagados por eles.

Notas:

¹ Literalmente “Sociedade” em alemão. Resumidamente, se trata das relações da Sociedade maior, fora do âmbito comunitário ou familiar, relações de caráter indireto.

² “Sociedade Global”. Basicamente o que a ONU quer dizer com “Global Village”.

³ Literalmente “Comunidade” em alemão. Se trata, resumidamente, das relações mais diretas, em contraste com a Sociedade, de caráter familiar ou comunitário.

 

"Liberdade, Igualdade e Fraternidade."


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