Guillaume Faye: Estado e Sociedade
- Traduzido por Bertram Schweickert
- 3 de out. de 2017
- 5 min de leitura
Uma nação e um povo podem ter instituições estatais defeituosas enquanto continuam a produzir uma grande e criativa civilização. O exemplo da França - entre outros - é bastante expressivo. Em muitos períodos de sua história, este país experimentou uma organização política estatal instável que não era capaz de controlar as crises internas. No entanto, a sociedade continuou a funcionar e a produzir em todas as áreas, apesar da crise estatal em curso. Porque a sociedade era formada por uma população fértil de um povo vigoroso, que nunca se desencorajou.
Examinemos o caso do período de 1815-1848 (a Restauração e Monarquia de Julho) e o da Terceira República (1875-1940). As instituições do Estado (as "constituições" nas palavras de Tocqueville) eram particularmente frágeis, sem suportes e apoio, desafiadas por crises permanentes. Mas, ao mesmo tempo, nas artes, ciências, indústria, qualidade da educação, influência econômica e cultural, etc., o país foi criativo e efetivo. Como explicar esse paradoxo?
Em primeiro lugar, a sustentabilidade e o gênio de uma Nação dependem da relação entre um princípio masculino e organizador, o Estado; e um princípio feminino e vitalista (espiritual), que dá luz às formas, a Sociedade. Sem Estado, a Sociedade torna-se estéril, uma vez que um povo sem um Estado se afunda no folclore (conjunto de tradições e manifestações culturais) e na letargia (inércia). E sem uma Sociedade estruturada e homogênea, um Estado (mesmo que muito bem organizado) se torna impotente e ineficaz: é isso está acontecendo hoje, assunto qual abordarei mais tarde.
Em segundo lugar, no passado, durante inúmeras crises de Estado e de suas instituições, a França ainda tinha um Estado, por mais imperfeito que fosse. Crises do "regime" eram superficiais e superestruturais, mas ainda assim era uma infra-estrutura estatal e política que moldava e ajudava a criatividade da sociedade. [1]
Em terceiro lugar, comparando analogicamente o Estado com o cérebro e a Sociedade com o corpo orgânico, como em um indivíduo, admitindo que o primeiro pode sofrer uma dor de cabeça enquanto o último permanece perfeitamente saudável, a Nação como um todo pode continuar a funcionar. No entanto, se a Sociedade se desintegrar em seu fundamento orgânico, o melhor estado não pode governar nem salvar a Nação.
As crises de Estado são muito menos severas do que as crises da Sociedade. Da mesma forma, um indivíduo que tem um cérebro excelente, mas cujo corpo entra em colapso, acabará paralisado e impotente.
O "capital histórico" de uma nação, isto é, a sua produção criativa acumulada (cultural e material) depende da interação entre o Estado e a Sociedade, mas também a consciência de que é (o capital histórico) uma unidade etno-histórica. [2]
Agora vamos lidar com alguns fatos impactantes. Atualmente, não podemos dizer que o aparato do Estado francês funciona mal em comparação com tudo o que experimentamos no passado. O problema é que a sociedade francesa, a força orgânica e produtiva da nação, está se desintegrando lentamente. A responsabilidade é em parte - mas apenas parcialmente - do Estado, que permitiu e não conseguiu corrigir a desintegração. Mas a doença da Sociedade precede a do Estado, uma vez que esta se origina como uma produção biológica do corpo orgânico da Sociedade, assim como o homem nasce da mulher. Do ponto de vista holístico e interativo, a Sociedade produz o Estado que, por sua vez, regula, orienta e protege a Sociedade.
Hoje, toda a Nação francesa (como muitas outras na Europa), sofre de patologias extremamente graves que colocam sua sobrevivência no médio prazo em questão e que não têm nada a ver com "instituições". Para enumerar: o envelhecimento da população nativa e seu declínio demográfico, uma invasão maciça de imigração externa (causada por ou aceita com fatalismo ou hostilidade, mas de nenhuma maneira imposta pela força do exterior), a domesticação (a fonte psico-comportamental do egoísmo), a recusa do esforço (letargia), sentimentalismo com o criminoso, emasculação, hedonismo passivo, indiferença aos antepassados e linhagem (o sangue), etc.
Alguns oferecem explicações baseadas em causas políticas ou ideológicas externas: a influência de longo prazo da moral cristã, dos maçons, do americanismo, do consumismo, etc. A explicação interna, que tem fundamentação na sociobiologia, é que os povos, grupos biológicos, envelhecem como indivíduos e perdem sua energia vital e sua vontade coletiva. A longo prazo, tornam-se menos capazes de resistir ao seu ambiente, ideológico ou não. As razões externas são fontes de irresponsabilidade, as internas do fatalismo.
Ninguém nunca vai resolver. Mas não se deve ser determinista. É preciso sempre agir como se o destino fosse superável e como se a desesperança silenciosa fosse estúpida.
Existem quatro princípios (ou condições) que determinam a saúde e a criatividade de uma Sociedade:
Homogeneidade étnica no sentido mais amplo, com forte parentesco antropológico.
Valores, uma cultura, uma consciência histórica compartilhada sem o interiorismo comunitário (bairrismo), ou seja, a unidade da Sociedade e do Estado.
Solidariedade interna além das diferenças econômicas de classe, sentido de pertença mais carnal do que intelectual.
Seu próprio gênio, isto é, qualidades intrínsecas, criatividade inata em uma grande proporção de membros. Esta não é a prerrogativa de todos os povos. (Manpower = recursos humanos)
O papel político do Estado é, portanto, organizar essas condições e planejar o futuro, isto é, para a história. Mas a ideologia republicana francesa (suplantada pelo comunismo soviético) imagina, de Robespierre aos esquerdistas alucinados do Terra Nova (think tank progressita) que inspiram o Partido Socialista, que o Estado, equipado com o seu idealismo, pode organizar de forma harmoniosa uma Sociedade composta por qualquer um de qualquer lugar. O utopismo confronta todo o senso comum. Aristóteles explicou que o corpo de uma cidade (ou seja, a Sociedade) não pode basear-se no acaso. O Estado precisa de uma Sociedade bem selecionada, pois o escultor precisa de mármore de qualidade. A Sociedade e o Estado devem reunir-se e se assemelhar uns aos outros, e o mais fraco dos dois é o Estado. Por quê? [3]
Conclusão: se a desintegração, o caos étnico da Sociedade francesa continuar, o Estado, que é sua projeção, acabará por desmoronar em seguida. A França desaparecerá. Mas o sol continuará a brilhar.
Notas:
1. Montaigne acreditava que, se a cabeça do aparelho de estatal desaparecesse, o país continuaria a operar normalmente. Em outras palavras, a Sociedade tem sua própria autonomia.
2. O conceito muito original de "capital histórico" foi formulado pelo movimento nacionalista bretão Emsav e pelo teórico Yann-Ber Tillenon. Ele descreve a interação da Sociedade e do Estado para construir, ao longo do tempo, a herança, tanto material quanto espiritual, de uma Nação.
3. Porque a Sociedade financia o Estado. Mesmo a força física do Estado (aplicação coercitiva da lei) depende do consentimento financeiro da Sociedade. Portanto, o equilíbrio de poder é complexo. O colapso de uma Nação vem sempre com o rompimento do pacto Sociedade/Estado. E a Sociedade sempre gera um novo Estado, enquanto o Estado não pode criar uma Sociedade.

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