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Dominique Venner: Pode a História resolver os problemas do futuro?


Os homens sempre tiveram a necessidade de vislumbrar o futuro. Os gregos perguntavam à Pítia de Delfos; a obscuridade de seus pronunciamentos os oferecia múltiplas interpretações. Cedendo ao costume, Alexandre foi consultar a oráculo antes de marchar para a conquista da Ásia. Como era lenta para regressar ao seu tripé (assento utilizado por Pítia em suas visões), o impaciente macedônio arrastou-a até lá usando sua força. Ela exclamou: "Não se pode resistir a você..." Tendo ouvido estas palavras, Alexandre a deixou dizendo: "Esta previsão é suficiente para mim." Ele era sábio.

Cada era possui seus profetas, adivinhos, arúspices, astrólogos, quiromantes, futurólogos e outros charlatães; hoje, por nossa vez, usamos computadores. Antigamente, usavam médiuns. Catherine de Médici consultou Nostradamus; Cromwell ouviu William Lily; Stalin questionou Wolf Messing; Hitler inquiriu Eric Hanussen; Briand e Poincaré compartilhavam os talentos da Sra. Fraya... O destino de um indivíduo, no entanto, é uma coisa; O destino de uma civilização é outro.

Precedido pelo otimismo herdado do Iluminismo, o século XX começou com promessas de um futuro brilhante, na certeza de que a ciência e o conhecimento levariam ao progresso e à sabedoria; progresso era fator e sabedoria. O homem se tornaria verdadeiramente "mestre e possuidor da natureza" e adquiriria autodeterminação também. Após a vitória sobre as coisas, a paz e a harmonia entre os homens seria estabelecida.

O impiedoso século 20 quebrou essas ilusões. Ninguém, ou quase ninguém, tinha previsto as consequências catastróficas do assassinato em Sarajevo no Verão de 1914. Todos os beligerantes esperavam uma guerra curta, fresca e feliz. Era interminável, terrível e mortal como nunca antes. Era o dom imprevisto do progresso industrial e da democracia das massas para a humanidade - dois novos fatores que haviam transformado a própria natureza da guerra. Começou como um conflito tradicional entre Estados, terminou como uma cruzada ideológica, arrastando para baixo a velha ordem europeia, encarnada pelos três grandes impérios do Centro e do Oriente. A carnificina na Europa e as condições impostas aos derrotados após 1919 carregaram o germe de outra guerra mais catastrófica.

No alvorecer de um novo século e de um novo milênio, as ilusões do progresso foram parcialmente dissipadas, tanto que se ouve falar sobre "progresso fatal" ou "horror econômico". O marxismo e suas certezas fundaram-se sobre o colapso do sistema o qual havia dado à luz. O otimismo de outrora frequentemente cedia a uma espécie de pessimismo generalizado, alimentado pela ansiedade sobre um futuro que temos todas as razões para temer. Voltava-se para a História para pedir respostas.

Mas a interpretação da História não escapa à moda nem às ideias reinantes. Assim, sempre se precisa de força mental e de caráter para se libertar do peso do próprio tempo. Com um pequeno impulso, qualquer espírito curioso, livre e cultivado pode captar o caráter imprevisível da História - que os últimos cem anos de fatos tornaram inevitavelmente claro - e vê-se através das teorias deterministas resultantes da visão hegeliana.

Em 22 de janeiro de 1917, um Lenin quase desconhecido e permanentemente exilado, falou diante de um círculo de estudantes socialistas: "Nós, anciãos", disse ele, "talvez nunca vejamos as batalhas decisivas da Revolução." Sete semanas depois, o czarismo caía e Lenin e os bolcheviques nada tinham a ver com isso. As "batalhas decisivas", nas quais ele já não acreditava, estavam começando; para o infortúnio da Rússia e do mundo inteiro. Conheço poucas anedotas tão reveladoras da dificuldade das previsões históricas. Esta é uma classificação por si só.

Durante o ano letivo de 1975-1976, Raymond Aron, um dos espíritos mais perspicazes do nosso tempo, deu um curso no Collège de France sobre "O Declínio do Ocidente", que já era um currículo inteiro. Aqui está sua conclusão: "O declínio dos Estados Unidos de 1945 a 1975 surgiu de forças irresistíveis". Notemos a palavra "irresistível". Em suas Memórias, publicadas no ano de sua morte, em 1983, Aron retornou a essa reflexão e ampliou-o: "O que observei desde 1975 foi a ameaça de desintegração da zona imperial norte-americana." Para aqueles que vivem sob a sombra do “imperium” do mundo americano, essa análise provoca dúvidas quanto a lucidez do autor. E, no entanto, ele nunca duvidou de si mesmo. Nosso espanto é devido ao fato de que a História galopava sem o conhecimento de nós, mostrando-nos um mundo hoje que é muito diferente do que era vinte anos antes, que ninguém tinha previsto.

De modo algum sugiro ignorar as ameaças que se mostram em nosso horizonte: globalização devoradora, explosões demográficas, imigração maciça, poluição da natureza, engenharia genética, etc. Durante uma era de ansiedade, é saudável repelir ilusões felizes; é salubre praticar as virtudes do pessimismo ativo, aquele de Tucídides ou Maquiavel, mas é igualmente necessário rejeitar o tipo de pessimismo que se transforma em fatalismo.

O primeiro erro em relação a futuras ameaças seria considerá-las inevitáveis. A História não é o domínio do destino, mas do imprevisto. Um segundo erro seria imaginar o futuro como um prolongamento do presente. Se alguma coisa é certa, é que o futuro será diferente de como se imagina hoje. Um terceiro erro seria perder a esperança na inteligência, na imaginação, na vontade e, finalmente, em nós mesmos.

Traduzido do Francês para o Inglês por Greg Johnson: http://www.counter-currents.com/2011/08/can-history-address-the-problems-of-the-future/

Fonte: Le Figaro, 19 de janeiro de 2000

Online: http://euro-synergies.hautetfort.com/archive/2011/08/02/l-histoire-repond-elle-aux-problemes-de-l-avenir.html

 

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